relembrando que palavras não significam coisas
e o embarangamento masculino é uma questão de saúde pública
🛸 olá, internautas! 🛸
há mais ou menos um ano, enviei aqui um texto sobre mediação discursiva dos mídiuns digitais. e, depois das últimas conversas que tivemos aqui sobre a estrutura da internet, como a internet é uma técnica e todos os papos sobre ia que seguem rolando, achei que valia a pena retomar esse texto. até porque, de lá pra cá, chegou muita gente nova por aqui e eu real acho importante a gente manter em mente a questão da mediação dos discursos quando, na internet, tudo é discurso.
esse texto tá no meu top 3 queridinhos da intern3t!!!11 e, um ano depois, sigo achando ele muito atual. espero de vdd que vocês se divirtam com a leitura, porque me diverti muito escrevendo e relendo esse texto. 🧡
palavras não significam coisas
🛸 olá, internautas! 🛸
a edição dessa newsletter vem com um aviso de gatilho a beletristes: contém menção a saussure. ok, dito isso, vamo que vamo. 🛸🚀💥
meu amigo iuri tem uma luta pessoal que é a de que palavras significam coisas. e em parte porque sou linguista, mas também porque essa é uma bandeira tão forte pro iuri, eu obviamente tomo o lado contrário da briga: palavras não significam coisas.
palavras, por si só, seja a junção de sons ou imagens que formam as letras, não significam nada. é ruído, é desenho. tu fala ou mostra uma palavra pra uma pessoa que não fala a sua língua e aquilo não vai ser nada pra ela. é como olhar um caractere chinês sem saber chinês. ou uma letra em hangul. se eu chego aqui e escrevo 안녕하세요!, provável que você nem saiba o que pronunciar, a não ser que você saiba coreano ou seja mt dorameire. isso é porque nada tem sentido intrínseco. a grafia e a fonética das palavras que falamos são enormes combinados. o que não quer dizer que você pode só fazer uns rabiscos e emitir uns sons e tudo bem. palavras não têm sentido intrínseco, mas isso não significa que o sentido não existe. ele existe. demorou todo o tempo da existência da humanidade no planeta terra inteiro para que eu possa escrever essas palavras aqui e você me entender. então toda vez que meu amigo iuri diz cansado que palavras significam coisas, eu respondo: não é verdade. mas significantes evocam significados.
eu juro por deus sem figas que não sou saussuriana, eu também preciso de aviso de gatilho pra falar do saussure, então prometo ser breve. pra quem não sabe, significante é o símbolo que usamos para nos referir a algo, significado é a coisa referenciada. signo (infelizmente não o astral) (eu, na vdd, sei falar muito melhor sobre signos do zodíaco do que signos linguísticos) é a junção dos dois. a gente chama de signo porque o significante anda de mãos dadas com seu significado, mas eles são coisas diferentes. é todo aquele papo do ceci n’est pas une pipe, ou isso não é um cachimbo. nem a imagem nem a palavra do cachimbo são o cachimbo. mas o significado anda ali junto com o significante.
fica fácil falar de objetos materiais, mas as coisas já começam a se bagunçar quando nosso referente não é material, como, sei lá, o amor. o que é o amor? sei lá, po. mas essa palavrinha evoca um significado pra você, que pode não ser o mesmo que pra mim, mas sabe-se lá como a gente até que se entende. normalmente é dizendo mais palavras que ajudam a delimitar o que estamos querendo dizer. tipo, se eu falo ah, amor, tipo, romance, você já vai pensar em um sentimento que é diferente se eu falasse em amor materno. quer dizer, assumindo aqui que você não é édipo. (dsclp hoje tô mt beletrista)
pode ser que colocar mais palavras possa parecer pior, porque cada palavra vem com o mesmo problema. mas na real colocar mais palavras costuma ajudar porque criamos assim uma situação. cada palavra numa frase meio que “puxa” a outra, e isso nos ajuda a cercar o significado do que estamos falando.
a situação também depende de coisas de fora (e agora estamos indo pra ad, então esqueçamos o saussure). que coisas de fora? uai, qualquer coisa. quem tá falando, onde tá falando, quando tá falando, com quem tá falando… por exemplo: se uma mulher solteira no dia dos namorados fala “eu odeio o amor", você (não você, porque você não é machista!!) vai pensar “ah recalcada mal comida”, mas se essa mesma mulher está completamente apaixonada conversando com sua amiga sobre su crush e fala “eu odeio o amor”, o entendimento é completamente outro. são situações diferentes.
sendo muito honesta, discursistas costumam usar o termo “situação” pro que normalmente uma pessoa normal chamaria de “contexto”. mas cê sabe como é, significantes evocam significados. a gente chama de situação as condições do ato da linguagem. isso inclui tudo o que falamos – quem tá falando, pra quem tá falando, quando e onde tá falando, e como tá falando. tudo isso tem também seus nomes técnicos, mas plmdds, isso não é uma aula da graduação. o que a gente precisa entender bem entendidinho é que cada palavra saída da boca de cada pessoa em cada momento da vida vai soar de um jeito e não de outro, e vai evocar uma ideia ou outra. se o lula diz “pau no cu do tuíter” e o bolsonaro diz “pau no cu do tuíter”, essa frase significa coisas muito diferentes. o tuíter que o lula hipoteticamente xingou é a empresa do elon musk e usuáries de ultra-direita que espalham desinformações, enquanto o tuíter que o bolsonaro hipoteticamente xingou são usuáries de esquerda que defendem direitos lgbtqiap+ e defendem a democracia. agora se o lula diz isso numa declaração oficial, isso leva a briga de cachorro grande. se ele tuita isso, isso leva a 3h de meme num dia sem muitas emoções.
agora digamos que o lula (e estamos aqui usando o lula porque ele é bem mais simpático de imaginar do que qualquer político de direita) não diz “pau no cu do tuíter”, mas em vez disso ele fala “nós brasileiros não temos que nos curvar a um milionário americano”. primeiro que a gente tem que fazer o asterisco e dizer que o musk é um milionário sulafricano herdeiro de colonizadores ingleses exploradores de recursos naturais que destroem a áfrica do sul e o mundo inteiro. mas mesmo com o erro, olha a diferença da frase. ele se posiciona politicamente: o brasil, enquanto eu for presidente, não se subordinará ao mercado financeiro exterior regido pelo dólar. as leis brasileiras são mais importantes que o interesse de um estrangeiro colonizador. se isso vai acontecer ou não, só o tempo nos dirá, mas a curto prazo, esse é um posicionamento no jogo da política nacional e internacional que fica muito mais certeiro do que só dizendo “pau no cu do tuíter”. por mais que, no fundo, honestamente, pau no cu do tuíter.
pau no cu do tuíter
eu escrevo esse título e espero que você que me lê ache um pouco engraçadinho. porque se você tá me lendo, eu tô assumindo certa situação. no caso, que você tirou uns 10min do seu dia pra ler uma análise descontraída mas séria sobre algum aspecto da digitalidade. e eu também assumo que você provavelmente assina a minha newsletter (o que, na vdd, eu não devia fazer), então você já sabe que eu sou uma pesquisadora, não obstante anarco anti-capitalista, não obstantíssimo uma mulher cansada. e isso, numa newsletter, no substack, gera algumas expectativas que quando eu coloco assim enorme “pau no cu do tuíter” te tira pelo menos um meio sorriso. porque eu espero que você meio que concorde comigo. tipo, não completamente, mas que com um drink de sua escolha você também repetiria essa frase, e com dois drinks da sua escolha você gritaria essa frase batendo a mão na mesa. ou talvez você seja mais forte pra bibida do que eu. enfim.
talvez você leia essa newsletter há tempo o suficiente pra saber que eu não reviso nada do que escrevo e também pra saber que sou uma ex tuiteira. talvez você até se lembre (coisa que eu não me lembrava e tive que checar) que saí do tuíter porque o musk decidir que todos os tuítes serviriam de dados para alimentar uma inteligência artificial foi a gota d’água pra mim, então eu saí. e daí o tuíter disse “ain, não se preocupa, a gente vai deixar todos os seus dados armazenados por mais um mês caso você sinta sdds #atébreve” e eu fiquei muito puta e daí fiz questão de não voltar mesmo. e daí comecei um bloco de notas do celular com tudo que eu tuitaria e agora o vício passou e eu tenho um documento nas minhas notas com 65 pensamentos profundamente aleatórios, começando com: o embarangamento masculino é uma questão de saúde pública.
mas não estamos aqui pra falar dos meus tuítes não publicados (mas provavelmente vou fazer uma edição com eles). ou, bom, a gente tá aqui pra falar disso também. porque quando eu tinha tuíter, existiam dois tipos de tuítes que eu fazia: os que eram formulados a partir de situações (aqui usando o termo no sentido teórico que expliquei ali em cima) da minha vida pessoal – que a maioria dos meus seguidores não tinha conhecimento porque eram coisas que eu tava vivendo em carne e osso e você teria que estar do meu lado ou mesmo dentro da minha cabeça pra saber – e os tuítes que eram formulados a partir do que meu feed me mostrava como situação. e o lance é que isso muda muito a interpretação do que eu postava.
então, assim, digamos que você vê esse post na sua telinha:
o embarangamento masculino é uma questão de saúde pública
esse texto não vem sozinho. ele tá entre outros textos e imagens agregados no que a gente chama genericamente de feed. e essa agregação gera uma situação. então, de duas a uma: a situação em que você vê esse texto pode apontar pra um significado ou não. tipo, se você abre seu tuíter e tem um monte de gente falando sobre como algum famoso envelheceu mal e daí você vê eu falando sobre embarangamento masculino, você vai assumir e interpretar que tô me referindo ao famoso, mesmo que eu nunca tenha falado de pessoa nenhuma no meu post hipotético. mas se não tem uma situação que baliza o significado desse post, essa só é uma frase muito aleatória. e daí também tem duas opções: pode ser um dia meio morno de assunto e isso só é mais um pensamento aleatório, ou pode ser um dia em que aconteceu um grande acontecimento sobre o qual não estou comentando. se é esse o caso, eu vou parecer pra você uma pessoa sem noção ou com as prioridades fora do lugar (ainda mais se é caso de uma grande tragédia). se só é um dia meio aleatório, eu só vou aparentar, bom, meio aleatória também.
é claro que existe humor na aleatoriedade. muito do humor de redes sociais (sublinho tuíter, tumblr e tiktok, mas em todas as redes rola) é meio que fazer algo soar aleatório, caótico, quase dadaísta. só que dadá não é loucura, nem sabedoria, nem ironia1. só que quando as pessoas postam nas redes sociais elas meio que estão tentando ser louquinhas, sábias ou irônicas. então, assim, o humor on-line não tem a ver com o dadá, sinto muito. mas ainda é humor. e ainda é meio engraçado falar assim categoricamente que o embarangamento masculino é uma questão de saúde pública2. mesmo que você não saiba qual a situação posta para que aconteça esse ato de enunciação, o que você não sabe, porque eu não te contei. a não ser que você seja uma das minhas amigas lauras ou luisas ou julias, daí provavelmente esse assunto já surgiu e você sabe quais homens inspiraram essa fala ilustre.
e o lance é que a situação muda o significado do que falamos. e se eu estivesse falando mal do namorado de alguém? e se fosse de um parente? e se fosse de um ex? e se fosse de um conhecido da faculdade que era mt pegador e de repente envelheceu muito mal? e se eu estivesse falando do daniel radcliffe, coitado? essas coisas balizam o entendimento do enunciado. balizam o entendimento de cada palavra. por que eu posso dizer “embarangamento” e esperar que você ache engraçado? e se fosse um homem falando isso? um homem cis hétero? um homem trans hétero? um homem cis gay? e se fosse o lula mandando a letra? e se o lula falasse isso em rede nacional? e se o lula mandasse essa num rt comentado de um tuíte mostrando uma foto dele de sunga com energia virial e outra do bolsonaro sem lábios comendo pão seco? mas e se você não soubesse quem falou isso? e se fosse só um perfil que você nunca ouviu falar? mas e se esse perfil tivesse como foto de perfil o doge em pleno 2024? e se tivesse a bandeira da palestina?
todas essas coisas são dados discursivos. quem tá falando, pra quem tá falando, onde tá falando, como tá falando. dizer "embarangamento masculino” não é dizer “enfeiamento dos homens”, muito menos “processo do gênero masculino de se tornar feio ao envelhecer”. palavras não significam coisas, mas saca esses significantes. eles evocam significados.
eles evocam significados
mas pra gente entender direitinho esses significados, a gente precisa compreender a situação em que se dá esse enunciado. a situação nos dá as balizas, é o que faz achar meigo quando, sl, o emicida chama a amada na música de “pretinha” e o que te faz querer socar uma idosa quando é uma véia branca, como, sl, aquela véia famosa que esqueci o nome que foi do governo bolsonaro, dizendo a mesma coisa. é também o que me faz ficar ansiosa de usar esse exemplo porque eu sou jovem branca publicando essa newsletter na internet, sem a menor ideia de em quem esse texto pode chegar e em que momento da vida da pessoa e que interpretação ela vai fazer disso. porque significantes evocam significados históricos, sociais e políticos. e esses balizadores nos ajudam muito, MUITO a entender que ato é esse ato de enunciação.
mas olha o que acabei de falar. que mesmo depois de tudo que escrevi aqui, de tudo o que escrevo nessa newsletter, que me dá uma baliza razoável do meu posicionamento político, eu ainda fico ansiosa de escrever algo e a situação ainda não ser o suficiente para que sejam evocados os significados que busco. e isso não é porque eu escrevo mal ou algo do tipo. é porque sei como a internet funciona ou, bom, como as redes sociais funcionam pra saber que mesmo fazendo o máximo pra balizar os sentidos do que digo, ainda vai ter alguém pra quem isso não vai funcionar. e é claro que tem vezes que o problema sou eu, e outras que o problema é o outro. mas, na moral, na maioria das vezes, o problema é a situação.
o problema é a situação
e, por situação, eu estou especificamente me referindo aos feeds das diferentes plataformas de blogging ou microblogging, que é meio o que a gente chama de redes sociais.
um feed nada mais é que um agregador de posts. todo feed tem uma regra de como apresenta os posts, sempre teve. hoje em dia, o mais comum é o famigerado “feed algorítmico”. o feed algorítmico varia de plataforma pra plataforma, porque cada empresa desenvolve o seu algoritmo, mas em geral a regra costuma ser uma mistura do que é mais “popular”, com o que foi postado mais recentemente, com o que é “parecido” com o que o usuário já curtiu/ comentou/ repostou etc., e quem pagou pra plataforma pra ter seu post divulgado. e me interessa muito isso do que é “parecido” por mil motivos, mas um deles é que a seleção e filtragem do que é parecido e o que não é parecido é feita de maneira maquínica. quer dizer, tem pessoas que programam o computador pra aprender o que vamos chamar de "parecido” e “diferente”, mas depois dessa fase, meio que fica com deus. e, por deus, eu quero dizer com a máquina. (sim, eu sei que existem ajustes, que programadores têm que trackear bugs etc., mas, de maneira geral, vai por conta da máquina)
a gente já estabeleceu nas duas edições anteriores que a internet é uma técnica de filtragem e propagação ao mesmo tempo. e me interessa esse processo ao pensar feeds de redes sociais, porque feeds são uma capsula modelar da mistura dessas duas características. e me interessa como as empresas entenderam que tanto a filtragem como o espalhamento de posts são técnicas muito importantes ao se pensar cultura, política e economia, a ponto de elas tirarem o máximo de poder dos usuários, de maneira que elas possam controlar o que se espalha ou não, e pra quem cada coisa é espalhada. é perverso e revoltante. que é o que faz ser legal de estudar.
vamos juntar umas pontas. o que tô dizendo é que o feed, como um agregador de posts (e aqui estamos considerando posts enunciados), é por si só uma situação. só que os feeds são fundamentalmente controlados por computadores que reproduzem regras criadas por grandes capitalistas. e a pergunta a que chegamos mais uma vez é: o que os grandes capitalistas querem? e a resposta segue a mesma: acúmulo de recursos.
nenhum capitalista quer distribuir nada. se ele quer espalhar algo, é o caos e a discórdia. nenhum capitalista quer compartilhar. isso não existe pra eles. e isso se manifesta na maneira com que eles criam as regras de funcionamento dos feeds. criar situações em que não podemos balizar os significados é bom pros capitalistas, porque desse jeito as pessoas não conseguem se entender. e se a gente não se entende, a gente briga. se a gente briga, a gente não tá unido contra, hm, os grandes capitalistas. e daí eles conseguem acumular mais riquezas e seguir explorando a nossa força de trabalho e os recursos naturais do nosso planeta. quer dizer, é um processo bem mais complicado que isso, mas o resumo é esse.
e aí, mis querides, é que entra o elemento surpresa dessa newsletter.
surpresa!!! essa é uma newsletter sobre ia
tá. na vdd, tudo isso que falei é porque tenho pensado muito sobre o papel da ia ao se pensar a destruição do sentido. a história é que eu tava absurdada conversando com uma amiga minha sobre uso de ia para gerar documentos no trabalho e depois de surtar com a parte de roubo de dados e exploração do trabalho intelectual dos usuários e dos recursos naturais da terra, chegamos num outro ponto que se resume na seguinte mensagem:
A outra coisa que pensei te ouvindo é que tem uma coisa de não dar valor à palavra, né? Como se qualquer palavra fosse substituível, como se não fosse um trabalho complexo e preciso de encontrar o melhor significante pro que você quer dizer
e, na vdd, foi aí que caiu a ficha. além dos problemas já mencionados, da falta de ética e de que a ia permite a produção em massa de uma coisa que a gente não precisa ter em mais massa do que a gente já tem, a ia apaga o processo histórico, social e político de escolha de palavras. a ia apaga a situação.
ia é um programa numa máquina. isso quer dizer que não existe e nunca vai existir inteligência, por mais que o nome aponte pro oposto. a ia depende completamente da regra feita pra que ela funcione e dos dados inseridos nela. isso significa que se ninguém conta quais são as balizas de cada signo, a ia pode intercambiar livremente. pra ia, não importa exatamente qual a palavra que foi usada, porque ela não tem capacidade interpretativa de história, sociologia, política ou literatura. uma ia não consegue criar uma nova metáfora porque ela não tem conhecimento dos limites da linguagem. tudo que ela consegue é reproduzir metáforas que já foram usadas muitas vezes, aquilo que não interessa na literatura. mas a gente não precisa e nem deve ficar na literatura. uma ia não consegue diferenciar sinônimos. tudo que ela sabe é identificar o padrão de junção de palavras.
a ia tem a mesma lógica de um grande capitalista porque ela foi criada e é programada por eles. pra ela, vale o acúmulo. quanto mais gente usando as mesmas estruturas, as mesmas frases, a mesma sequência de palavras, mais a máquina vai reproduzir isso. só que não é de quantidade de reprodução que a linguagem é feita. não é assim que atribuímos significados para nossos significantes. como a gente já estabeleceu, a gente precisa da situação. a gente precisa saber quem, como, onde, quando. mas o trabalho da ia é exatamente apagar tudo isso, ela cria uma média. e a linguagem não é feita de médias.
essa imagem foi pra gente respirar um pouco, deixar as coisas assentarem. considerem uma versão visual de um longo suspiro. suspirou? ah! eu também. ok, vamos continuar só mais um pouquinho, juro que tô no final.
a grande pergunta que tenho me feito quando não tô pensando na minha dissertação (um mês pra entrega!!!!) (tô escrevendo essa newsletter onze horas da noite!!!) (a louça toda suja na pia!!!) (deixem aí seus dez reais, caras, eu mereço) é como a massificação da produção de enunciados tem nos feito perder a capacidade de atribuir sentidos. eu acredito que isso começou com a produção de enunciados feita por humanos, com a técnica digital, especialmente a internet, como mídium (ref: régis debray) (cata aí) (ou espera eu publicar minha dissertação) sendo usada para a circulação dos discursos. só que nossos enunciados estão sendo mais e mais atravessados, mediados, cooptados e arrisco dizer mesmo corrompidos por essas máquinas feitas e controladas por grandes capitalistas. e à medida que o ato de enunciação se torna mais maquínico, perdemos mais e mais o sentido das coisas. e eu queria entender por quê. mas acho que isso aí fica pro projeto de doutorado. vamos entregar a dissertação primeiro.
depois de tudo isso, acho que o mínimo que posso desejar é que cês fiquem com o deus de sua escolha. isso inclui o vácuo e o abismo, se quiserem.
como sempre, lembrem-se que essa newsletter não tem nenhuma revisão e foi escrita por uma mestranda em seu último mês antes do prazo. coloquem isso aí na situação que cês formaram nas suas lindas cabecinhas.
bjoks e até mês que vem,
clara
Adorei o texto! Gosto quando consigo aprender coisas novas e ao mesmo tempo me arrancam umas risadas. Só que como são conceitos novos pra mim, sinto que em algum momento eu vou ter que voltar nesse texto novamente para fisgar as nuances das ideias. Ainda bem que vc traz bons e variados exemplos. E boa sorte com a dissertação!
eu amo seus textos!! sorreio enquanto aprendo muita coisa interessante