🛸 olá, internautas! 🛸
durante todo o tempo que uso a internet (muito), publiquei muitas coisas on-line. de shitposts a carta das editoras de revista, dá pra encontrar muita clara browne por aí se você se esforçar um pouco. às vezes, me dá um 5 minutos e tenho vontade de contratar alguém pra apagar todas as minhas pegadas digitais, mas daí lembro que sou pesquisadora de universidade pública e tradutora freelancer (mandem jobs!) e que não tenho dinheiro pra isso. então volto a me resignar que é um marco geracional dos millennials ter se exposto demais na internet. se la vi, já diriam os franceses.
tenho muita vontade de falar mais sobre essa relação pessoal e complexa com a internet, mas hoje não é esse dia. hoje, o que quero falar é da minha melhor obra na internet: minhas playlists.
pra ser honesta, só peguei gosto por fazer playlist assim pensada e com Conceito na faculdade. antes disso, eu só meio que baixava todas as músicas que gostava no meu zune1 e ouvia no aleatório. isso significa que ouvi muito nirvana seguido de chico buarque na minha vida – o que talvez não explique, mas deve ter alguma contribuição pro meu diagnóstico recente de tdah. então, é, essa foi minha vida de colégio. ou eu ouvia pink floyd - the wall de cabo a rabo ou uma mistura caótica de indie fedido2, mpb, janis joplin e o cavalo de tróia que me veio na vez que estava tentando baixar a discografia completa do led zeppelin: tear-drops-on-my guitar_TS.mp3. eram tempos sombrios.
então, foi na faculdade que comecei a fazer mais playlists de verdade. mas a Arte da Playlist só me pegou no aniversário de 50 anos da minha mãe. isso é porque ela decidiu dar uma festa de arromba e nós passamos literais meses montando a playlist perfeita pra festa. discutíamos a passagem das músicas, a vibe, o momento da festa, tudo. aprendi coreografias pra essa festa. foi absolutamente incrível. e, nesse processo, algo acordou em mim. e esse algo foi a capacidade de fazer excelentes playlists.
a capacidade de fazer excelentes playlists
não vou me dedicar aqui ao que faz uma playlist ser boa ou não. o que vou dizer é que só deve existir um único motivo para se fazer uma playlist: porque você quer.
uma playlist tem que ser, primeiramente, pra você e por você. mesmo que você esteja fazendo pra outra pessoa ouvir, a primeira pessoa que tem que gostar realmente é você. se a outra pessoa não ligar muito, tudo bem. porque o que importa é que você é feliz com aquelas músicas naquela ordem. a playlist vai ficar salva no seu perfil ou computador ou o que quer que seja. ela é sua.
tem todo o tipo de playlist. tem gente que usa pra escrever frases com os títulos e as músicas na vdd não têm nada a ver e ninguém vai ouvir de vdd aquilo. tem gente que usa pra expressar seus sentimentos pra pessoa amada. expressar seus sentimentos porque você tá afim disso é uma coisa e vai nessa, mas jamais faça uma playlist para comunicar à pessoa amada seus sentimentos. você só vai destruir aquelas músicas pra pessoa. vai por mim. novamente: a playlist é, antes de qualquer outra coisa, pra você. é você que vai ficar ouvindo aquelas músicas e pensando nelas, na ordem e no conceito. ninguém nunca vai ligar tanto pra uma playlist que outra pessoa fez.
ninguém nunca vai ligar tanto pra uma playlist que outra pessoa fez
o que significa que, aqui, admito que essa newsletter é muito mais pra mim do que pros outros. mas eu genuinamente amo as minhas playlists. amo os nomes delas, os conceitos, as fotos. então, venho aqui falar sobre elas por isso. porque as amo. e por mais que eu saiba que ninguém nunca vai se importar do mesmo jeito, sei que é muito gostoso ler gente falando sobre coisas que ama. então confio que essa animação passe pra vocês. então, vamos lá, às playlists.
às playlists
a primeira Grande Playlist que fiz foi a famigerada Levanta Gay Bora Trocar pneu. o título já indica que é de um momento específico, datada pelo antigo meme/ piada LGBT - Levanta Gay Bora [insira um verbo que começa com a letra T], do começo de 2018, se não me engano. depois de seu sucesso, percebi que eu tinha algo em mãos. e é assim que criei tantas outras maravilhas, como aqui veremos.
Levanta Gay Bora Trocar pneu
playlist feita para incentivar a comunidade LGBTQIAP+ a dirigir. todas as músicas são gays e sobre carros, sinais de trânsito ou pisar no acelerador. “ah clara faltou essa música gay com nome de carro”, queridão nem toda música gay com nome de carro é um incentivo a dirigir, algumas acabam nos fazendo ser mais contra carros do que já somos!
a capa é a charli xcx – o maior incentivo público pra gays dirigirem! – segurando o loló gringo (poppers ou, hm, RUSH), o que é algo bem gay. dito isso, não dirijam depois de usar drogas!!!!
a ordem dessa playlist é perfeita e importa. é ILEGAL pular qualquer uma dessas músicas, gostando ou não! aproveito aqui também pra dizer que a última, Porsche, é um hino assexual. não vou elaborar.
Projeto Não Tão Secreto: a playlist caótica
há anos estou escrevendo um romance, um projeto não tão secreto que tenho. dei uma parada nos últimos anos porque a Energia é muito intensa e eu precisava de um tempo, mas é algo que tá sempre na minha cabeça e, de vez em quando, volto a mexer nele. se você se esforçar, dá pra achar coisas que já disse dele por aí, mas aqui o que importa é que é um gigantesco monólogo-áudio-de-zap de uma personagem tentando recompor as memórias de faculdade dela e, nesse meio, tem muitas citações ou alusões a muitas, muitas músicas. então, pra não me perder, comecei a fazer uma playlist com todas as músicas que, de alguma maneira, estão nesse livro. são 5h e 6min de playlist. são 109.700 palavras escritas até agora (+- 185 páginas no word). a música que mais me emociona e que eu chorei real enquanto escrevia essa parte do romance é não chore mais, do gil. a que eu mais ri escrevendo a cena é gostava tanto de você, do tim maia.
a capa é um moodboard que fiz do livro. tem o ratão de saco de lixo que meus amigos levaram pra zoar um protesto de direita, uma colagem antiga de cidade, uma galáxia (porque eu amo espaço!!), aquela imagem perfeita com um cachorrinho no estilo de ilustração da wikihow com a frase WHETHER OR NOT YOU'RE A GOOD BOY DEPENDS ON WHAT SYSTEM OF ETHICS I CHOOSE TO APPLY, alguma frase dessas de pinterest, uma foto de um pixo de uma greve da faculdade xingando os professores de pelegos, uma foto #aesthetics de globos de espelho, policiais escrotos e um gambá gritando com a legenda AND I SCREAM FROM THE TOP OF MY LUNGS WHAT'S GOING ON (outra música que está presente no livro e, logo, na playlist!)
cL4r4 fRit4
em 2018, eu era MUITO fã da charli xcx. o que significa que também fui fã da kim petras, 100gecs, SOPHIE, dorian electra, entre outras pessoas cuja produção invoca um grupo de gays baludas pulando suadas ao seu redor.
a graça dessas músicas, pra mim, é o tanto de barulhinho. por uns 5 anos, meu gosto musical podia ser resumido em Música Com Barulhinho. mas essas músicas em específico eram um barulhinho muito frito. é a minha versão frita. e sabe qual o meu nome? clara. logo, a playlist se chamou clara frita (mas escrito de um jeito frito) e, portanto, a capa só poderia ser um ovo frito3.
essas músicas são as mais esquisitas, as mais fritas da galera frita. talvez aqui que meu cérebro tenha começado a se deteriorar, mas vale a pena. essa playlist é praticamente uma expansão das músicas que soam como a sensação da minha cabeça depois de eu pensar demais sobre a internet. divirtam-se!
sl mein
2018 foi um ano estranho. eu tinha 24 anos e estava louca. daí teve o assassinato da marielle, e o jeito que processei isso emocionalmente foi meio que ouvindo o musical hamilton sem parar. como disse, estava louca. mas algumas coisas tirei de ouvir hamilton. uma delas foi desenvolver um gosto maior por rap, mas especialmente rap experimental4. e, cara, sei lá, eu só comecei a gostar muito desse nicho e a ouvir muitas músicas e daí tive que criar uma playlist e daí o spotify me pediu o título da playlist e eu fiquei ai…. sei lá, mein… logo…
a capa é o daveed diggs numa pose insana escrevendo raps muito pesados no celular e ela veio de algum amigo dele que postou dizendo que é assim que ele escreve a maioria das músicas do clipping., o que acho particularmente lindo. a playlist não tem nenhuma ordem específica e é EXTREMAMENTE nóia. fiquem avisades.
dsclp deus
acontece que em conjunto com essa brisa de rap experimental, eu também entrei muito no buraco dos musicais. eu já gostava de musicais antes de hamilton – meu gosto é muito específico, eu gosto de musicais sobre A Revolução e já rankeei todos que importam na minha outra newsletter –, mas hamilton abriu a porta do inferno e voltei a escutar MUITOS musicais, a ponto de perceber que não tinha jeito, ia ter que fazer uma playlist.
a playlist tem ordem específica e ela Conta Uma História. eu fui muito cruel comigo mesma e coloquei a sequência maria (west side story) - satisfied (hamilton) - defying gravity (wicked) e não vou revelar quantas vezes chorei com isso porque já perdi a conta. obviamente, ter uma playlist de musicais é algo horrível e, portanto, o nome dessa playlist é meu mais genuíno pedido de desculpa pra deus por ter feito isso. a capa é aquele meme do i'm afraid you've ratted your last tatouille sir porque acho mesmo que aqui eu ratted my last tatouille.
puts
na pegada playlists com títulos descritivos das minhas emoções, temos puts. que foi quando comecei a ouvir kpop e, puts…
a capa é o kim jong-un num quarto kawaii, pois por que não?
a ordem não importa e, pra ser honesta, eu não escuto mais essa playlist, não me tornei kpoper, mas…
kim namjoon vire meu namoradinho amém
demorou, mas pra alegria da minha amiga lulu, eu virei army.
essa playlist são todas as músicas do bts que gosto, porque é muito chato ficar caçando tudo por álbum e eles têm MUITOS álbuns. eu sou uma rapline girlie e é tudo que vou dizer sobre bts aqui, prometo.
Era's era (Clara's version)
uma coisa curiosa é que as minhas playlists até o fim de 2019 eram playlists em que eu juntava muitas músicas que estava conhecendo, meio como uma forma de lembrar de voltar a elas. era um jeito de ter organizado as coisas que estava descobrindo, gostando e que estavam me interessando. todas as playlists até agora, tirando a Levanta Gay, são esse registro. essaí é bôa e curtissaum também têm essa proposta (ambas com vibes bem parecidas). a playlist do bts também era isso, até que eu realmente comecei a reconhecer as músicas e saber qual era qual.
nesse ponto, já estávamos em 2021, e acho essa uma data importante, porque significa que estávamos há um ano inteiro em meio à pandemia, e a pandemia mudou muito a nossa relação com o uso de tecnologias digitais, produção e consumo5 de cultura, dentre outras mil outras coisas. e o que acho interessante disso é perceber que, antes da pandemia, as minhas playlists eram muito para conhecer coisas que eu não conhecia e, a partir de agora, as playlists são muito mais relacionadas a reunir músicas que já conheço em uma ordem agradável ou relativa a algum conceito. é claro que, nesse meio, tem muita coisa que descobri no caminho, mas não é mais esse o propósito das minhas playlists.
o maior exemplo dessa mudança é Era's era (Clara's Version), que é uma playlist que reúne todas as músicas da taylor swift que eu gosto, nessa mesma pegada de ter preguiça de ficar catando por álbum. eu não tenho orgulho disso, mas é a playlist que mais escuto desde que tive quadro depressivo em 2022 (não estou mais com esse quadro! mas segue a taylor….)
outras playlists desse momento são: acalme-se minha senhora eu (músicas calmas que não são triste pra eu me acalmar – feita no pior momento da pandemia, quando eu tava muito puta e precisava demais de calma), Pa Tropi (todas as minhas brasileirais que amo), CXG (músicas da série crazy ex-girlfriend que gosto) e chora bb (músicas tristes pra chorar por amor). nenhuma delas tem uma ordem específica.
fumante social dando um tempo no mato
outro marco das minhas playlists. aqui começam as playlists mais conceituais, com um propósito e ordem. elas misturam mais coisas que conheço e coisas que conheço menos.
essa playlist começou como duas diferentes: fumante social chique (encomendada pela anna vitória) e vendo a floresta (encomendada pela minha mãe), mas eu ouvia tanto as duas seguidas que decidi juntar em uma coisa só. o objetivo aqui era uma Vibe, que foi alcançada.
essa também foi a época em que entrei numa grande crise estética e marcamos aqui o fim da minha preferência por barulhinhos. entrei numa fase mais cool, num mix de mpb, jazz, r&b e hip hop, às vezes uma pegada mais latina e tal. depois da fumante social dando um tempo no mato, fiz a noites de verão – mais longa e um pouco mais dançante – que junta também soul, algum reggae e minha atual jornada específica no mundo do jazz japonês. mas a Vibe é a mesma. até acho curioso porque a fumante social tem MUITOS likes, mas a noites de verão pouquíssimos… sendo que essa é uma continuação daquela. então, se você é uma das pessoas que curte cigarro e tempo no mato, você também vai curtir noites de verão!
chico buarque emocionado com o carnaval
carnaval é a época do ano que mais me emociona e sinto que a única pessoa que compartilha essa Emoção do mesmo jeito específico que eu é o chico buarque. então, cá estamos… a playlist mais auto-descritiva.
reputation for dummies
eu tenho dois grandes hot takes sobre o mundinho taylor swift:
reputation é o melhor álbum da taylor – e o mais interessante
a taylor precisa fazer psicanálise freudiana
isso é o que nos leva ao fato de midnights ser um álbum desnecessário. porque, se a taylor fizesse terapia, ela poderia identificar que quase todas as músicas que lançou desde 2019 são uma repetição piorada de reputation. as imagens, metáforas, vibes, emoções… tudo está em reputation. e o lance é… eu posso provar. então, em vez de só dizer que eu poderia provar e ficar nóia com isso pra todo o sempre, decidi gastar 3h da minha vida lendo e ouvindo todas as músicas da taylor de reputation a midnights e montar essa playlist em que demonstro por a+b que estou correta. ouçam na ordem.
english class 2000-2010
fill the brackets.
manifesting
lembra quando o povo falava das playlists de sexo e como the weekend era bom pra transar? então. essa não é minha playlist de sexo, porque imagina o surto de transar ao som de charli xcx feat. tommy cash - delicious ou pior ainda: ir olhar a playlist de sexo da menina e ‘tar lá FEAT. TOQUINHO kkkkkk sem condições.
dito isso, essa é uma playlist de músicas sexy. por isso o título. e por isso também o print do byung-chul han com a legenda com typo dizendo “and passionately explore ouselves until we collap[s]e”. tipo…… sexy.
considerações finais
o que aprendemos com tudo isso?
você é a pessoa que tem que amar sua playlist;
a melhor forma de nomear uma playlist é com um nome muito específico e altamente descritivo mas que só faz sentido pra você;
clara browne tem excelentes playlists
dito isso, gostaria de saber: vocês são de fazer playlists? como são as de vocês? costumam colocar ordem nas músicas ou é tudo um amontoado no aleatório? quais os títulos das suas playlists? qual sua playlist preferida e qual que faz mais sucesso (1like é sucesso!!!)? contem tudo pois gostaria de pensar mais pensamentos sobre o assunto.
bjoks,
clara
você lembra do ZUNE?!?! era o famigerado ipod da MICROSOFT!!!! kkkkkkk meu pai trabalhou na microsoft por muito tempo e, nisso, a gente acabava tendo acesso a umas techs meio absurdas de lá, tal como o ZUNE. como uma boa pré-adolescente, eu tinha um pouco de vergonha de não ter um ipod, mas devo dizer que meu ZUNE era muito bonitinho e eu era super apegada ao objeto. ele era um vermelho-rosa escuro, pequetito, era uma gracinha. uma das poucas techs que lembro direitinho de como era
minha posição política sobre indie é: é fedido e sou contra. digo isso com tranquilidade em meu coração pois dos 16 aos 20 todos os meus amigos eram indies e eu também sabia cantar cornerstone. mas apaguei todo esse conhecimento do meu hd para usar pra coisas mais importantes (minha própria tradução de hamilton)
eu amo amo amo fazer trocadilhos com meu nome e ovo. mas só eu posso fazer
não é uma boa desculpa, é mais uma acusação: é que o daveed diggs é MUITO gato. e ele e o rafael casal têm um bromance muito impressionante e nunca vi dois homens mandando um rap mais insano que o deles em seven nights in chicago
não gosto do termo “consumo” pra se falar da relação com cultura, mas nesse caso específico acho que se aplica bem, porque foi sim um momento muito mais de consumo do que qualquer outra coisa. não teve absorção, não teve vivência, não teve contemplação, nada disso. foi puro consumo – uma reação compreensível do momento que vivemos, mas não por isso impassível de crítica (não vou criticar aqui não)
pior que o han tá extremamente sexy nesse print
sou obrigada a correr e ouvir a sl mein agora. e sim, daveed diggs é um gostoso