Paranóia Tecnológica

histórias e recomendações para virar nóia

🛸 olá, internautas! 🛸

esses dias chegou e-mail avisando que vão oferecer uma matéria chamada Economia, Poder e Cultura na Internet, um título que obviamente me chamou atenção. fui ver a ementa e tava escrito que a proposta era "oferecer um panorama da tecnologia (…)", mas eu li "oferecer uma paranóia da tecnologia". hora de desligar o computador e ir tocar na grama.

não sei muito bem quando comecei a ficar maluca com coisas de tecnologia. mas aqui vai uma lista de nóias pra vocês:

1. meu inimigo público n2: o cardápio qr code¹

   eu me recuso a scannear um qr code. ah, mas não tem cardápio físico. ah, mas eu não tenho celular.

2. desafio de foto antiga no instagram

   minha amiga que não sei se me considera amiga roledebaik outro dia postou aquele “desafio” de 10 anos com foto de 2013 e foto de 2023 e escreveu “tenho um medo irracional de que postar fotos com diferenças de anos alimenta IA’s mas fodasse tbm”, ao que respondi que sou igual mas acho um medo bem racional e daí conversamos sobre termos essa nóia. já faz uns anos que noiei real de ter me exposto demais na internet e que o tanto de dados que coloquei em rede só contribuem para a criação de tecnologias de reconhecimento e geração de texto, imagem e som das quais sou contra. mas, também, pensei: cara, tô há tempo demais nisso. a única forma que eu teria de resolver a situação era contratando um hacker pra apagar todas as minhas pegadas digitais. eu não tenho grana pra isso, sou bolsista na universidade pública.

3. o povo que desenvolve carro autônomo

   um dos Grandes Problemas pras empresas que desenvolvem carros autônomos é como se proteger de processos legais caso o carro cause algum acidente. no meu primeiro trabalho com pesquisa de tendências, vi muito sobre o assunto, mas o que me impactou de verdade foi a tentativa de criarem um capacete que “leria o cérebro” do motorista. assim, o carro faria suas escolhas “baseado” na escolha do motorista. ou seja: matou alguém? não é culpa de quem programou o veículo, é culpa do motorista que preferiu matar a pessoa em vez de capotar!!! não acompanho muito como estão as coisas na área de mobilidade atualmente, mas esse foi o momento que pensei: cacete, entendo por que todo mundo² da tecnologia é anarquista.

   eu também não confio numa máquina dessas na mão de nenhuma empresa ou governo.

4. a multa pra pedestre

   essa aqui me tira do sério como classe social e convoco os pedestres do mundo à revolução. basicamente: uma conhecida que não nomearei pois ela é escorpiana foi multada por cruzar a rua fora da faixa de pedestre estando a pé. ela foi pega por uma câmera de rua e, por reconhecimento facial, descobriram quem ela era e onde morava, então enviaram a cobrança pra sua casa. pra ela não pagar a multa, ela teria que enviar uma série de informações sobre ela, incluindo fotografias em melhor definição, para que acessassem os arquivos em melhor qualidade e pudessem analisar se era ela mesma ou não. a pessoa preferiu pagar a multa.

   tudo isso é doido, mas o mais engraçado, pra mim, é saber que a mesma pessoa, uma vez, foi barrada pelo reconhecimento facial do aeroporto porque a máquina não reconhecia que a imagem dela na ida era da mesma pessoa da volta. não tinham dado heráclito pra máquina ler. mas ok, eu também nunca li heráclito.

5. operadoras de celular têm poder demais

   esses dias, meu chip parou de funcionar. chatão, mas não esquentei. só ir lá na operadora mudar. HA. HA. o resumo da história é que passei uma semana sem celular porque o titular da conta (que não era eu) precisava ser a pessoa a comprar o chip pessoalmente porque era necessário uma biometria facial feita in loco pela loja pra enviar pra central pra correr nos arquivos da operadora pra ver se a pessoa é ela mesma pra daí vender a porra do chip. ah, mas o titular da conta tá em outra cidade. ah, mas o titular da conta tá no hospital. ah, mas o titular da conta sofreu um acidente que destruiu a cara dele. então dá um jeito dele fazer uma procuradoria autenticada em cartório pra dizer que tu pode comprar um chip. minha senhora, eu preciso do chip hoje. eu sinto muito, só com biometria facial feita na loja. não dá pra ligar de vídeo? não, senhora.

   o moço me explicou: é que o chip agora é muito importante. ele não é só telefonia. é onde tá suas senhas. toda confirmação de senha passa pelo teu chip. vai que chega alguém aqui com todos os seus documentos falsificados e pega tudo teu? reconhecimento facial agora é protocolo em todas as operadoras. ok, é a primeira vez que poderei me beneficiar do diploma da minha amiga advogada.

6. o CPF na farmácia

   esse aqui é antigo né, daquela matéria sobre a máfia dos descontos via CPF. mas eu tenho que comprar remédio de ansiedade e insônia todo mês e fico porra mano Eles sabem de TUDO.

7. bilhete único comprado via zap

   discussão antiga no grupo de estudos é como o zap está virando um aplicativo pra transferência bancária. essa já é uma nóia boa. mas daí chegou a primeira vez que decidi ter um date depois de dois anos de pandemia. eu, assim como todo mundo, estava lelé. mas o menino era bonitinho e tinha me enviado zap ambientado ao som de Tim Maia - Racional vol. 1, o que tornava tudo muito promissor. nos encontramos na frente do metrô, ele pediu desculpas porque tinha dado um problema com a passagem que ele comprou via whatsapp. pera, como é? é, então, eu comprei lá pelo zap da sptrans… ZAP DA SPTRANS?!?!!? é, eles enviam um qr cod- AH NÃO!!!!!!!!!!!!

   eu já tinha visto passagem via celular e já tinha usado isso, inclusive, quando tava fora. a primeira coisa que pensei quando um inglês disse que eu tinha que baixar o app no celular foi: haha isso jamais funcionaria no brasil, vou ter o celular roubado e nem vou poder voltar pra casa. quem diz haha agora, não é mesmo? o lobby das empresas de mobilidade urbana. porque não só tu tem a passagem no celular, mas pior ainda: te vendem via ZAP. nenhum empresário jamais pisou numa rua, não é possível. eu falei por TANTO tempo sobre os problemas de se transformar o zap em um aplicativo pra transferência bancária e como era ruim que o próprio governo estivesse usando dessa empresa (que inclusive ajuda a propagar informações falsas sobre… o governo!!) que só não me impressiona que o menino continuou no date porque depois descobri que ele era de uma seita.

sete é um número cabalístico, então vamos ficar por aqui. mas a paranóia tecnológica é eterna.

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Caso te interesse ser nóia com embasamento teórico, recomendo:

• o último capítulo do livro No Enxame, do Byung-Chul Han

• o livro Políticas da imagem: Vigilância e resistência na dadosfera, da Giselle Beiguelman

• provavelmente qualquer coisa do sérgio amadeu da silveira, com todo o respeito

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pra descontrair, a molly soda limpando o desktop dela.

1. a título de curiosidade, meu inimigo público n1 é o Caetano Veloso.

2. quase ninguém da tecnologia é anarquista. a maioria é um bande de neoliberal filho da puta. depois tem a área O Sonho Acabou, ou também chamados de desiludidos, e só então uma pequeníssima parcela de gente de esquerda que é aqueles anarco bem anarco com um nome não humano e que se sentar contigo na mesa de bar vai te dizer que a única solução é se libertar de todas as tecnologias e virar primitivista. essas últimas pessoas são as que eu conheço.