🛸 olá, internautas! 🛸
essa era pra ser a primeira newsletter do ano, mas o ano só começa depois do carnaval, então cá estamos: a primeira newsletter do ano!
como pesquisadora e pessoa interessada nos comportamentos humanos on-line, gosto de ler artigos de jornalistas e newsletters de pessoas que não conheço que descrevem ou tentam explicar nichos, comportamentos e tendências relacionadas à digitalidade. em partes porque é um jeito de saber de coisas que acontecem on-line que não chegam pra mim através do meu uso comum das redes; mas também tem me interessado bastante ler esses textos porque vejo que, cada vez mais, as pessoas têm tido dificuldade de nomear e organizar as dinâmicas digitais. e eu, como pesquisadora, pessoa interessada nos comportamentos on-line e virginiana, adoro nomear e organizar coisas.
é claro que a dificuldade para nomear, organizar, sistematizar, explicar etc. o que acontece on-line não é um problema de hoje e nem é um problema que vai ser resolvido tão rápido. eu tenho muito a dizer sobre isso também, mas hoje, em vez de me perguntar por que a gente tem tido tanta dificuldade pra nomear o que se passa on-line, quero propor a vocês uma forma de olhar pra internet que acredito que pode nos ajudar a entendê-la melhor.
e, assim, gente, existem muitas explicações de por que a internet é do jeito que é hoje em dia. a gente pode assumir as mais diversas perspectivas quando se olha pra internet, porque a gente pode assumir as mais diversas perspectivas quando se olha pra qualquer coisa. essa é a graça das ciências. mas acontece que, quando falamos especificamente da internet, as perspectivas mais comuns que são usadas me parecem insuficientes, é pouco. tudo explica uma parte da história, mas não explica o todo. e eu sou uma pessoa que gosta de olhar pro todo. o que acaba que significa que fico constantemente frustrada com as explicações que aparecem por aí do por que a internet é do jeito que é. mas também é o que me faz gostar de ler todas elas, mesmo que pra passar raiva (eu, infelizmente, passo muita raiva com esse tipo de coisa). porque ler essas explicações ou tentativas de explicações me faz ver os buracos que existem quando tratamos da internet, me faz entender onde devo mirar na minha pesquisa e na minha escrita. e tudo começa com uma coisa muito simples que a gente esquece com frequência: o que é a internet.
o que é a internet
a coisa mais importante que vocês precisam saber sobre a internet é o seguinte:
a internet é uma técnica
eu sei, eu sei. vocês já me ouviram falar disso mil vezes. e sei que parece óbvio, mas não é. não é porque todo o vocabulário e gramática que usamos para falar da internet é relacionado a espaço, e isso faz acreditarmos que estamos na internet. acreditamos que podemos navegar essas águas ou galáxias, que a internet é um lugar de encontros. a internet não é um lugar. a internet não é um espaço. a internet é uma técnica.
vamos lá, repitam comigo:
a internet é uma técnica.
agora em voz alta:
- a internet é uma técnica.
po, beleza. obrigada a todes que participaram aqui comigo. mas, agora, sejamos honestes: o que isso quer dizer? o que significa ser uma técnica? de uma maneira breve, quer dizer que a internet é um conjunto de procedimentos utilizado para uma finalidade. a finalidade da internet? a circulação, processamento, monitoramento e armazenamento de dados. não nos esqueçamos: a internet vem da necessidade do exército estadunidense, lá durante a guerra fria, de criar um sistema digital de comunicação e espionagem descentralizado.
o conjunto de procedimentos que forma a internet, de uma maneira muuuito generalizada, pode ser resumido em hardwares e softwares. então, por um lado, estamos falando dos dispositivos em si. o celular, o computador, a fiação, as antenas de captação de sinal, a fibra ótica, os galpões de armazenamento de dados (conhecidos como nuvens), os chips e baterias, as telas com ou sem tecnologia touch etc. por outro lado, falamos também dos softwares que rodam nesses dispositivos. ios, windows, todos os aplicativos e sites que existem, o anti-vírus que você baixou, o vírus que alguém programou etc. tudo isso junto é a internet. é uma técnica e, por ser uma técnica, ela é material.
pera. vamos sublinhar isso também:
a internet é material
a gente sublinha essa parte porque, novamente, a linguagem utilizada pra falar da internet costuma ser relacionada ao espaço. a própria ideia de software eu já acho muito louca – que objeto é esse que é macio, liso, mole, suave mas que você não pode tocar? é bizarro, convenhamos. mas, de novo, não é disso que a gente vai falar hoje. hoje, a gente vai falar de como a internet funciona.
como a internet funciona
bom, gente, é claro que depende. porque a internet é uma técnica que envolve muitas outras técnicas em si. mas a gente tá aqui no básico, então vamos falar rapidinho do modelo osi.
o modelo osi é meio que a abnt da internet. ou, bom, da interconexão de sistemas abertos (ou open systems interconnection, ou seja, osi). esse é um modelo de padronização da estrutura digital, e ele se define em sete camadas. eu explico isso na minha dissertação, mas vamos explicar aqui também e ainda vamos colocar essa linda imagem do modelo.
a gente costuma apresentar essas camadas a partir da perspectiva do servidor, que é oposta à do usuário, então, a gente começa com a base da pirâmide.
a primeira camada é a camada física. é nessa etapa que se define as especificações materiais dos dispositivos. é a parte mecânica e elétrica da internet. com qual tipo de cabo a transmissão se dará? quais especificações de temporização, tensões, repetidores e adaptadores são necessários para que uma conexão digital seja bem-sucedida? é, basicamente, quando se define como vai ser montado o seu hardware. a camada física é o que define como se dará o sinal (elétrico, óptico ou micro-ondas) dos dados brutos, que são chamados de bits.
em seguida, temos a camada de enlace de dados, que identifica e corrige erros ocorridos na primeira camada, e também controla o fluxo de informação entre os dispositivos conectados em rede (recepção, delimitação e transmissão dos quadros, que são enviados em “pacotes”, ou seja, em pequenos grupos).
daí, vem a camada de rede, que transfere os pacotes de dados para outro roteador, estabelecendo assim a conexão de redes e definindo as rotas e a comutação dos pacotes de dados. essa camada seria como uma central de correios, que vai apontar para onde vai cada objeto postado1.
com os dados roteados e endereçados, chega-se à camada de transporte. ela garante o envio completo dos pacotes de dados na ordem correta, sem faltas, duplicações ou outros tipos de erro. e, com isso, chegamos à camada de sessão. nela, os pacotes de dados são abertos e é garantida sua funcionalidade para a transferência. é nessa quinta camada em que se estabelece e encerra a conexão entre os dispositivos.
a sexta camada é a de apresentação. nela, os pacotes de dados são formatados, ou seja, "traduzidos" para o tipo de protocolo do dispositivo. os códigos (0s e 1s) são convertidos para caracteres (letras, emojis, cores de pixel etc.), e os dados são criptografados se necessário e compactados.
daí, finalmente chegamos na última camada, a de aplicação. é ela que permite a criação de serviços digitais, como páginas na web, e-mail, mensagens instantâneas, tocadores de vídeos etc. o http, por exemplo, está nessa sétima camada do modelo osi. nela também se criam as arquiteturas dos sites que usamos e seus designs. é a camada da internet com a qual nós usuáries têm maior contato.
mas por que que eu tô contando isso pra vocês? porque, normalmente, quando a gente pensa a internet, a gente pensa só na camada de aplicação. dependendo da sua área de trabalho ou estudo, você vai encontrar gente que pensa na camada de apresentação também. mas, o geralzão, o Povo? a gente só considera a última camada. porque é o que a gente vê. é o que a gente tem contato. é a parte da história que conseguimos aprender por conta própria só mexendo no computador ou celular. mas eu contei tudo isso pra vocês porque, quando a gente vai analisar qualquer coisa que acontece na internet, a gente tem que pensar nesse todo. porque é tudo isso que tá funcionando quando cê vê um vídeo de gato sendo esquisito, um meme de gambá, um post de alguém sendo burro. tudo isso tá funcionando o tempo inteiro. porque a internet é uma técnica. e, pra técnica funcionar, todo o conjunto de procedimentos tem que funcionar.
e daí eu gostaria de entrar rapidamente numa briga de faca.
e daí eu gostaria de entrar rapidamente numa briga de faca
eu sei que, no fundo, ninguém acha de verdade que a internet é um lugar. eu volto a martelar que a linguagem desenvolvida para tratar a digitalidade atrapalha a maneira com que pensamos a internet e tudo que é digital, mas não é essa a digressão que quero fazer. eu quero falar das pessoas que consideram a internet uma mídia.
você, muito provavelmente, é uma dessas pessoas. até porque, se a gente vai no verbete do dicionário, assim bem rapidinho, tá escrito lá que mídia é toda estrutura ou suporte de difusão de informação, e a internet se encaixa sim nessa definição. mas a estrutura da internet é muito mais complexa do que a estrutura de um jornal ou revista ou mesmo da televisão e do rádio. e olha só: as coisas já se confundem um pouquinho aqui. porque jornal e revista não são exatamente uma técnica (técnica é, por exemplo, o códice, que o jornal não tem mas enfim), mas televisão e rádio são. HUM… a internet tá mais parecida com a tv e o rádio nesse sentido. e, aí, eu gostaria de introduzir a vocês a ideia de mídium.
mídium (ou médium, mas não aquele que vê o futuro) é um termo sugerido por um teórico francês que não ficou famoso, coitado, mas que foi importante pro desenvolvimento da análise do discurso, o régis debray. foi lendo esse doido que o maingueneau (esse sim ficou famoso) organizou algumas das ideias dele, e isso é mt interessante pra quem é linguista, mas assumo aqui que esse não é o caso da maioria de vocês que me lêem, então não vou falar disso, não. mas vou falar de mídium.
porque a brisa do debray é entender como raios ideias são transmitidas. como, por exemplo, uns papos que um bróder lá onde judas perdeu as botas mandou pruns amigos no rolê na época de antes de judas perder as botas virou uma religião imperialista que tem seguidores no mundo inteiro e influencia, por exemplo, o direito das mulheres de abortarem um feto ou, sei lá, quais povos são oprimidos pelo estado (sim! eu estou falando do catolicismo! essa é a grande brisa do debray!). e, tipo, isso é um grande brisa de fato. e é complexo de entender uma coisa dessas. por isso que o debray inventou seu próprio jeito de olhar para as culturas. e aqui vamos respeitar o cara, porque ele não chama de metodologia, mas de maneiras de fazer. e foi desenvolvendo essas maneiras de fazer que ele introduziu a ideia de mídium.
e, nas palavras desse francês que buscamos numa nota de rodapé, mídium é o sistema dispositivo-suporte-procedimento que permite que uma mensagem seja transmitida a ponto de se embrenhar na nossa própria subjetividade. estamos falando de um complexo sóciotécnico, estamos falando de algo material que serve como intermédio regulador do que chamamos e entendemos como cultura. ou, bom, um sistema que medeia discursos.
introduzo aqui essa ideia pra vocês porque percebo que uma das grandes dificuldades ao se falar da internet é exatamente organizar esse sistema e os agentes e objetos que fazem parte dele. por isso a ideia de mídium. ela nos permite entender a cultura a partir de todas essas coisas ao mesmo tempo.
um mídium pode ser os instrumentos que usamos, as técnicas. a linguagem, o suporte físico, a maneira com que transportamos isso. na internet, estamos falando das linguagens que usamos para transformar bits em bytes – linguagens binárias, decimal, hexadecimal etc. – e das variações que vemos na aplicação: textos, vídeos, sons, imagens estáticas, gifs, emojis etc. também falamos da arquitetura de rede e dos protocolos usados pra isso. falamos dos materiais utilizados pra construir toda a infraestrutura: silício, ouro, fibra ótica, cobre, lítio etc. falamos dos próprios dispositivos: computadores, celulares, modens, cabos, antenas, nuvens. e falamos também da interface de cada programa, como ela funciona e como é o seu design.
um mídium é também um grupo organizado de pessoas, os operadores humanos de uma transmissão. na internet, estamos falando das empresas de hardware e software e todos os seus trabalhadores, das leis de acesso à internet, todas as empresas e instituições (o que inclui cada estado) que participam de alguma parte desse sistema – da extração de silício e o fornecimento de energia elétrica até a criação e manutenção dos softwares que usamos. estamos falando também de nós usuários, tanto como indivíduos mas também como participantes de diferentes comunidades discursivas, ou seja, de um grupo/ conjunto de pessoas que circula certos discursos (sobre si e sobre o mundo).
e o lance é: essas coisas andam juntas. os objetos técnicos e os operadores humanos são indissociáveis um do outro, e isso é o que a gente tem que ter em mente quando analisa o que acontece na internet.
isso é o que a gente tem que ter em mente quando analisa o que acontece na internet
nada, absolutamente nada acontece num vácuo. então, se uns véio no facebook estão respondendo amém em todas as fotos, isso tem um motivo. se os adolescentes gringos no tiktok estão bebendo água com açúcar colorido, isso tem um motivo. se o povo 25+ tá emocionado com o substack, isso tem um motivo. se o povo dos streamers tá fazendo sei lá o que o povo dos streamers faz, isso também tem um motivo mesmo que eu nem saiba o que acontece entre eles. a compra massiva de roupas feias e objetos aleatóris na shein, o que quer que sejam as nova babes, todas os vídeos de gatinhos e todos os vídeos de cachorro, o cardápio qr code, o uso sem menor pensamento crítico de ferramentas de ia, o uso de ia no brutalista pra corrigir o sotaque do coitadolândio lá, os looks do dia e o fato de que eles viraram oott, o tbt e o fato que ele virou bts, todos os filtros, todos os apps de edição de imagem, as discussões sobre app de delivery, o vazamento de nudes, a quantidade insana de trigger warning que exigem em resenhas de livros, a cultura de no spoilers e a própria ideia de que saber mais do que a premissa de uma obra estraga essa obra… tudo, absolutamente tudo tem um motivo. e o motivo não é que as pessoas são malucas. nem que as pessoas são burras. o motivo é a característica alienante e condicionadora da internet atual.
o motivo é a característica alienante e condicionadora da internet atual
porque toda a técnica carrega em si uma ideologia. tá no seu modo de usar. a internet atual funciona como ela funciona porque tem um grupo de pessoas que são extremamente neoliberais e imperialistas construindo essa técnica e as técnicas abarcadas por essa técnica. não se esqueçam nunca: a internet foi criada por e para militares estadunidenses. e, como militares estadunidenses, a internet é necessariamente imperialista. e neoliberal. a internet é necessariamente uma técnica de controle e dispersão de dados, o que significa que ela é necessariamente uma técnica de controle e dispersão de fluxos de dados. os seus, os meus, os nossos dados vão ser guardados e vendidos porque é isso que uma inteligência militar faz. não existe privacidade para o inimigo, e o inimigo é o povo. a privacidade existe apenas pra quem está no poder. no poder político, no poder financeiro. ninguém mais pode ser confiado.
a internet, como qualquer outra técnica, condiciona-nos a um uso, condiciona-nos a uma lógica. nós somos seres adaptáveis. se a técnica nos condiciona a um uso, a gente se adapta a isso. a gente aprende a lógica que nos é imposta e, daí, basta o tempo pra que a absorvamos, pra que nós também pensemos do mesmo jeito.
um exemplo simples: quem é que não sabe a importância de comentar, curtir e compartilhar um post em qualquer rede social porque é isso que faz com que os algoritmos das redes sociais que usamos decidam por circular mais um post? agora, a gente já automaticamente curte e comenta posts que queremos que circulem. a gente já faz perguntas pras pessoas responderem nos comentários pra que nosso post fique ali mais tempo circulando.
a internet que temos hoje nos condiciona a pensar pouco. vídeos curtos, textos curtos, áudios curtos. as pessoas reclamam de áudios de 10 minutos como se ouvir alguém, ainda mais alguém que você gosta, falando por 10 minutos fosse impensável insuportável. o substack coloca aqui: tempo de leitura de 20 minutos e as pessoas ficam meu deus escrevi demais ou meu deus é muita coisa pra ler, como se 20 minutos pensando sobre alguma coisa fosse um esforço hercúleo. não é. mas estamos condicionados por essa técnica a achar que é. e a parte mais maluca pra mim é que a técnica também permite as voltas malucas de pensamento. porque não é ok estarmos alienados. porque devemos sim criticar a prática alienante a qual somos submetidos e nos submetemos. mas quando alguém critica isso, vem alguém saído do bueiro pra te dizer que essa sua crítica é elitista. por que quem é que tem tempo ou energia pra pensar profundamente sobre algo?! sendo que a crítica é exatamente que todo mundo devia ter tempo e energia pra pensar profundamente sobre algo!
todo mundo devia ter tempo e energia pra pensar profundamente sobre algo
mas a internet atual não nos permite isso. porque os espaços que temos para diálogo não funcionam. é impossível ter uma conversa interessante nos comentários de posts, nos fóruns, nas dms. tudo restringe a troca de ideias, porque restringe o tamanho dos textos, restringe o tempo em que tiramos para ler e pensar sobre o assunto, não nos dá mais a segurança necessária para que possamos ter dúvidas, que possamos tirar as nossas dúvidas demonstrando o nosso raciocínio. porque, se estamos errados, se não sabemos, se não temos certeza absoluta, somos crucificados por outros usuários.
mas a culpa não é dos outros usuários. a culpa é de quem cria a técnica. pera, vamos sublinhar isso aqui também:
a culpa é de quem cria a técnica. a culpa é de quem arquitetura um site ou aplicativo ou outro tipo de software que permita interação entre usuários. porque são essas pessoas que escolheram e seguem escolhendo uma estrutura que não nos permite conversar direito, não nos permite diálogo. e a culpa é das empresas que decidem e controlam o fluxo dos dados. porque são elas que escolhem o que é circulado e o que não é, pra quem cada dado é circulado, quais perfis podem ou não existir e o que pode ou não ser dito.
não se esqueçam disso.
toda vez que alguma ~trend nova aparecer, toda vez que algum post viralizar, toda vez que chegarem com uma nova problematização válida ou maluca, toda vez que você começar a reparar num novo padrão on-line. do nada só te aparece reels de golden retriever, o youtube só te recomenda uns vídeos de homem branco sendo machista, todo mundo te recomenda muito emocionade usar o substack, de repente só aparece sempre o mesmo anúncio de uma luminária de rato desses sites de venda de tudo. tudo, absolutamente tudo, é conectado à maneira com que a internet funciona.
tudo, absolutamente tudo, é conectado à maneira com que a internet funciona
até o que não acontece só on-line. mas isso é papo pra outro dia.
aqui, agora, eu quero lembrar vocês do seguinte: toda vez que vocês quiserem entender, mesmo que rapidamente, porque alguma coisa tá acontecendo on-line, olhem pro mídium. então, se perguntem:
qual linguagem tá sendo usada pra circular o discurso?
em que rede(s) isso tá acontecendo?
quais formatos de discurso ela(s) permite(m) e quais ela(s) privilegia(m)?
qual a empresa que controla essa(s) rede(s)?
quem é (são) o(s) dono(s) dessa(s) rede(s)?
quais são as comunidades discursivas envolvidas nesse evento?
o evento começou a partir de qual discurso? elaborado por qual usuário?
o que esse evento tem de parecido com outros eventos? o que tem de diferente?
é respondendo todas essas perguntas que você vai poder olhar pra coisa como um todo. e aí vai entender qual é o verdadeiro problema. e como ele está no sistema dispositivo-suporte-procedimento, no mídium. e, daí, a gente volta praquela perguntinha: quem é que compõe e controla esses mídiuns? é aí que encontramos os responsáveis do nosso verdadeiro problema. e conseguindo identificar, nomear e organizar o problema, finalmente temos chance de resolvê-lo. porque é tomando consciência do sistema que está em jogo – tomando consciência de verdade, pensando profundamente sobre ele, entendendo-o minuciosamente – que paramos de repetir os mesmos erros e podemos exigir mudanças que serão efetivas para o nosso propósito.
bjoks e até a próxima,
clara
é aqui que entra o endereço de ip, o que significa também que é aqui que age o vpn (o que não importa tanto pra gente nessa letter, mas que acho muito legal). é que seleção, encaminhamento e endereçamento dos dados só são possíveis de serem feitos porque cada dispositivo tem um próprio endereço que o identifica na rede mundial ou local de computadores, o ip!
meldels, Clara, que AULA! eu juro que fez cair muitas fichas por aqui (e agora tô me sentindo estranha de curtir e comentar, mas tudo bem?????). mas sinto que ficou realmente bastante claro como a gente participa de uma coisa muuuuuuito maior e muito mais manipulável e controlável do que a gente imagina.
Clara, este foi o seu primeiro texto que chegou até mim. Muito obrigada por ter compartilhado algo tão profundo e por ter aberto tantas tantas reflexões aqui dentro de mim. Agora eu preciso imprimir este texto pra poder ler várias outras vezes grifando tudo o que me deu vontade de destacar pra analisar com outras leituras que tenho por aqui (e as angústias que esse tema central ~a internet e o consumo digital~ traz por sermos, ao mesmo tempo, críticos a, e também produto/produtores através de). Estou como algumas outras pessoas disseram aqui: sentindo que meu cérebro explodiu!