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referências bibliográficas: maio de 2023

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o que li, vi e ouvi esse mês + obrigada por tudo, quadrúpedes

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Clara Browne
May 31, 2023
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referências bibliográficas: maio de 2023
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🛸 olá, internautas! 🛸

esse mês, uma amiga minha me mandou um áudio dizendo: “tem uma mulher lá que acho que ela é quadrúpede, miga. cê tá ligada nesse movimento dos quadrúpedes? ela foi- não, não que isso seja a parte zoada, assim, achei que até legal, né, ela ter essa questão quadrúpede” e depois disso eu não ouvi mais nada. fiquei rindo por 20 minutos consecutivos, lágrimas escorriam, tentei gravar um áudio contando disso pra outras amigas e eu não consegui falar uma palavra sem começar a rir, pode perguntar pra qualquer amiga minha.

meu amigo iuri, então, encontrou um exemplo de um adepto do movimento quadrúpede e compartilho aqui com vocês.

print do vídeo do instagram. um cara andando de maneira quadrúpede, muito bizarro, não tenho capacidade mental de elaborar, sinto muito
eu juro!!!!!!

se algume leitore aqui for quadrúpede, por favor, me dê um toque! eu tô fascinada!! se todes aqui forem bípedes, tá tudo bem. o mundo é mesmo muito diverso!

mas, enfim, hoje venho a vocês como bípede contar um pouco mais das coisas que li, vi e ouvi e povoaram minha mente durante o mês de maio de 2023. então, vamos lá!

print de uma conversa de instagram. mandei um vídeo de uma galinha de bota ugg da @chickenrohen e minha amiga me respondeu BÍPEDE!!!!

livros

o jardim secreto; frances hodgson burnett

terminei esse livro no começo do mês e tenho tanta coisa a dizer sobre ele que, agora, dia 31, já fico até cansada. mas o que achei mais interessante foi ver os mecanismos de poder na narração.

infelizmente, virou uma coisa muito comum em discussões sobre livros (especialmente discussões on-line) os leitores igualarem personagem problemático = livro problemático, ou uma fala problemática = livro problemático. e, bom, livro problemático = livro ruim. essa é uma dinâmica que tem muito a ver com outras partes da dinâmica on-line e é um assunto que quero me deter com mais calma por aqui em algum momento. mas, de maneira geral, esse tipo de comentário on-line me tira muito do sério.

agora, o jardim secreto me interessou exatamente porque é um livro extremamente problemático. e não problemático tipo “ah, esse personagem falou algo mais ou menos machista uma vez”, não. é um livro em que a narração é colonialista, racista, capacitista, imperialista e, de quebra, machista. esse é um excelente exemplo de um livro feito com o propósito colonizador. os valores imperialistas estão materialmente no texto e dá pra dar uma aula maravilhosa sobre isso, educar os tuiteiro doido sobre o que de fato é um livro escroto e o que só é um livro normal. enfim… marquei muitas passagens que apresentam materialmente no texto o propósito colonizador e hierárquico.

e o interessante é justamente que a história d’o jardim secreto é uma que não precisava ser assim. a história dá todos os elementos para que o arco dos personagens aconteça da mesma forma com a justificativa de que o problema de todos fosse as opressões sistêmicas, mas a narração do livro coloca o império britânico como a grande salvação.

mary é uma menina feia e mimada filha de colonizadores ingleses na índia. seus pais são negligentes e a deixam sob cuidados de uma aia nativa, ou seja, negra e escravizada. todos os adultos com que a mary interage são escravizados, o que significa que todos têm que obedecê-la. ela é um monstro. ela reproduz todo o poder que vê seus pais exercendo sob os colonizados ao mesmo tempo que sofre por não ter o amor e a atenção dos pais. daí, eles morrem de repente e ela é mandada de volta pra inglaterra, pra ficar na casa de um tio rico e deprimido que está sempre fora de casa.

nessa casa, mary perde todo o poder que tinha antes. ela não manda mais em ninguém, a disparidade de classe diminui drasticamente (ela agora é uma órfã) e não existe mais a marcação de raça que existia na colônia. os criados da casa do tio não a tratam como patroa e, por mais que eles sejam da classe trabalhadora e tenha diferenças de regionalidade, todos são brancos. pra uma menininha que estava aprendendo o racismo colonial imperial, isso é uma mudança drástica. mary tem que aprender a se relacionar como gente, e não como opressora.

MAS!!!! nada disso é colocado no livro. o narrador diz que o que faz a mary se tornar uma humana decente é o ar da inglaterra. é a civilização. a natureza intrínseca à Britânia e a sabedoria protestante. o livro inteiro é sobre como as terras inglesas (o jardim) podem “curar” qualquer pessoa. o jardim cura a babaquice da mary, a deficiência física do collin e a depressão do tio.

é revoltante. especialmente porque, como falei, é um livro que poderia ser facilmente contra opressões sistêmicas tendo a mesmíssima história, mas a narração se recusa a ver a história dessa maneira. por sorte, tive minha amiga sofia para me apoiar nas minhas revoltas ao longo do livro e para longas conversas sobre como imperialismo é escroto.

dito tudo isso, deixou meu amor e carinho ao pônei Saltito!!!!

trecho horroroso que grifei por ser horroroso: “É Magia – disse Mary –, mas não é magia negra, é branca como neve.” (gente, eu juro por tudo de mais profano que essa é uma das passagens menos violentas, e ela é extremamente violenta!!!!)

trecho wholesome que grifei: E o sol era quentinho no rosto, de leve, como uma mão fazendo carinho.

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