lowkey on main: a disputa pela produção de sentidos nos mídiuns digitais
em outras palavras, a minha dissertação de mestrado
🛸 olá, internautas! 🛸
como presente de halloween e dia do saci, venho aqui sem absolutamente nenhuma sacanagem dizer que minha dissertação tá on-line e vocês podem acessar, baixar, ler, citar, jurar que vão ler e ficarem meses e anos pensando puts tenho que ler a dissertação da clara, mandar imprimir, compartilhar com amigues, usar como texto substituto se quiserem hackear algum site, enfim!- vocês podem fazer o que bem entenderem exceto plagiar e colocar pra alimentar dados de ia, porque agora ela tá no mundo e vocês são parte do mundo. e vocês podem fazer tudo isso clicando aqui:
sei que falei muito dessa pesquisa por aqui, mas esse foi o trabalho que tomou maior parte da minha vida nos últimos anos. tudo que eu via, lia e ouvia, de certa forma, passava também pelo filtro dessa pesquisa; e eu fiquei muito louca com isso tudo, mas foi uma loucura muito boa.
como toda pesquisa, essa dissertação veio de um incômodo muito pessoal e passei por um processo muito grande de desvencilhar meu Eu do que queria dizer. por anos, ensaiei o que gostaria de dizer na introdução dessa pesquisa, escrevi páginas e páginas, completei cadernos contando a minha história com a internet, as minhas angústias, as minhas questões. eu achava que precisava contar de mim pra explicar aquela pesquisa. achava que precisava contar do quanto eu acreditei e do quanto quebrei a cara.
a introdução é a última coisa que você escreve em uma dissertação. faltavam 3 dias para eu mandar o arquivo pra gráfica para que desse tempo de entregar tudo no prazo, e eu simplesmente travei. tudo o que tinha escrito não fazia mais sentido e eu não sabia o que dizer. passei horas no telefone com uma amiga que, generosamente, anotou tudo o que falei pra que eu pudesse escrever aquela introdução. li suas anotações e nada daquilo fazia sentido. liguei então pros meus pais, que me disseram pra eu não colocar nada daquilo. eles disseram: clara, você cresceu. escreve o que você quer dizer agora, não o que você queria dizer anos atrás.
anos atrás, eu queria contar de mim. naquele fim de junho, eu queria contar dos outros.
anos atrás, eu queria falar da internet como um lugar. naquele fim de junho, eu queria que ninguém nunca mais na vida pensasse a internet dessa maneira. eu me repetia: a internet é uma técnica, a internet é uma técnica, a internet é uma técnica. eu peguei um ódio profundo do castells por comparar a internet às galáxias.
eu amo introduções poéticas e emocionadas, mas faltando uma semana pro prazo de entrega, eu sentia que já tinha falado absolutamente tudo que queria. a poesia, a irritação, o incômodo, a crença profunda, a frustração, o humor – tudo já estava nas outras 190 páginas que eu tinha escrito.
estava na minha dedicatória (A todo mundo/ na rede mundial de computadores);
estava nos meus agradecimentos (A todos os envolvidos com o sinonimos.com, agradeço por literalmente me darem palavras nos meus momentos mais incompreensíveis);
estava na minha epígrafe (Maybe the internet raised us/ or maybe people are jerks/ Lorde, 2013);
estava nos títulos dos meus capítulos, nos prints que usei de exemplo, na passagem absurda em que expliquei muito rapidamente o musical hamilton, no momento em que disse que o emoji 😂 é conhecido como "chorrindo”, na hora em que expliquei o que é um hipster e citei o urban dictionary, no apêndice com uma lista de 58 artistas jovens associadas ao female gaze, na parte que só fui me dar conta depois de que expus meu perfil de cursed images do ig no meio do texto, no fato de que minhas referências bibliográficas começam com o tumblr da Molly Soda, chamado -`♡ ́-Mόll𝔂s๏𝔻𝕒.𝕖𝔁ρo𝓈𝔼𝓓-`♡ ́-
tudo o que eu queria dizer eu já tinha dito. era hora de terminar. terminar pelo começo.
minha introdução é protocolar. digo o que vamos fazer nas próximas páginas e é isso aí. conto isso a vocês porque entendo o poder de convencimento que tem uma introdução poética e emocionada, e não é isso que vocês vão encontrar. então, pra quem realmente quiser tentar ler essa pesquisa por curiosidade e diversão, recomendo começar pelo último parágrafo da introdução, o que é meio doido, mas vai por mim.
eu genuinamente me diverti muito fazendo essa pesquisa. eu ri dos absurdos que tive que escrever, da palhaçada que é a burocracia universitária, dos trocadilhos meio tristes que acadêmico faz pra dar um pouco de luz nessa triste vida universitária. eu me diverti odiando meu objeto de estudo, catando exemplo de post pra ilustrar as culturas das redes sociais que estudei, tendo que explicar piada que só faz sentido pra quem tem o cérebro derretido. escrever é absolutamente horrível, mas é um tipo de horrível com que me divirto muito.
tem muita coisa aqui que gostaria que mais pessoas soubessem. a história da internet é absolutamente fascinante. os debates ideológicos que vêm junto com a técnica me deram vida. a estrutura básica da internet é uma das coisas mais úteis que você pode saber. a metodologia que usei e explico é genuinamente muito útil pra pensar em qualquer organização social e cultural. e pra quem viveu a ascensão e queda do female gaze, bicho… leiam meu terceiro capítulo.
sinto que essa é uma dissertação muito engraçada pra quem usou o tumblr durante os 2010s e muito curiosa pra quem não faz ideia do que o tumblr é. também sinto que a análise que faço do funcionamento do instagram pode acalmar um pouco a angústia de muita gente só pelo que vejo de newsletter sobre como a internet tá uma merda. porque, na real, era meio que essa a minha grande questão. quando apliquei pro mestrado, a minha maior angústia e grande questão era essa: como é que pode a internet ter ficado uma merda?. e é claro que eu não podia dizer assim com essas palavras na academia, mas posso dizer pra vocês. e o que ainda me parece completamente insano disso tudo é que, anos depois, com essa pesquisa financiada pela CAPES (não confundir com o CAPS - centro de atenção psicossocial), eu realmente consegui a resposta. e você pode achar que ela é óbvia, porque tem tudo a ver com a capitalização da internet, mas ela é muito mais surpreendente do que você imagina. os meandros dessa história fazem toda a diferença.
não vou contar mais dessa pesquisa. agora é com vocês. há muito tempo cês me perguntam quando é que poderão ler. pois bem, taí. e eu não sou muito de me gabar e me autopromover, mas acho que nesse caso vale dizer que a minha banca terminou com uma forte recomendação de publicação, então aproveitem aí enquanto é de graça (toda pesquisa acadêmica é de graça e meu trabalho vai seguir no banco de teses independente do desenvolvimento que ele tomar adiante, isso foi uma piada!).
por fim, vou dizer que fiquei muito contente que, na banca, os professores reconheceram a minha ousadia simpática da conclusão, em que termino dizendo literalmente: gostou? Compartilha!. foi muito cara de pau da minha parte terminar assim, pedindo pra meus leitores compartilhem minha pesquisa, e os professores da banca confirmaram isso. mas eles também confirmaram o que eu esperava quando escrevi o que escrevi, que o pedido pela partilha se sustenta. e eu não disse isso lá, mas existem 3 pontos da minha dissertação que não consigo ler sem chorar: a epígrafe, o parágrafo de agradecimento aos meus pais, e o parágrafo final.
se essa dissertação foi um processo de me afastar de mim mesma enquanto me aprofundava no tema da minha pesquisa, o parágrafo final é quando volto à superfície. é quando admito que tudo aquilo faz parte de mim agora. e eu sou uma internauta. tenho em mim essa ironia profunda e essa seriedade ridícula misturadas. tenho em mim tudo o que é nosso, que é humano. eu não sabia disso nesse processo todo, mas a minha pesquisa é muito sobre a nossa humanidade. e o negócio da humanidade é que ela é sempre sempre sempre compartilhada.
essa dissertação é dedicada a vocês. todos vocês.
a todo mundo
na rede mundial de computadores.
se vocês vão ler ou não, eu sei lá. se lerem, me contem. e contem também as coisas que vocês pensaram, do que lembraram, me contem as histórias idiotas e posts absurdos. e, se não lerem, acho ok também. de qualquer forma, eis aqui o tl;dr, vindo diretamente do espelho de casa:
bjoks e até a próxima,
clara
se vocês quiserem acessar outros trabalhos que estiveram em diálogo com o meu pra além da bibliografia que consta na dissertação, vocês podem acessar o site do grupo de estudos que participo, que foi parte ativa do desenvolvimento dessa pesquisa.
CANCELANDO TODA A AGENDA PARA LER DJÁ!
olha elaaaaaa